Ataque à Torre - a desconhecida vertente de Vide!
130 Kms em "estradeira" com 3.700 mts de desnível acumulado...
Da bonita descida a Vila Cova à Coelheira aos 30% da "parede" do povoado de Lapa dos Dinheiros...
Descendo do Alto do Carrazedo...
Ataque à Torre pela desconhecida vertente de Vide! O "muro" de 19% que se segue a Muro... O pequeno povoado de Casal de Rei... A longa rampa após Cabeça... A estreia do novíssimo asfalto da "turística" Estrada de São Bento... TORRE!!
Até aos confins das Penhas Douradas pela duríssima via florestal de Manteigas...
Após o "inferno", o paraíso no Vale de Rossim...
17 de Junho de 2007
Incursão solitária à Serra da Estrela para “desenferrujar” os pedais e dar largas à “loucura dos cumes”!
A saga começa bem cedinho, pelas 8 da matina, à porta do Parque de Campismo do Vale de Rossim. Para ajeitar a “carapinha”, inicio a longa, longa descida até Seia. O ritmo é lento, de maneira a ir apreciando a paisagem sobre as nuvens baixas que lá ao fundo cobrem a lezíria e a resistir ao frio que baixa dos 19 para os 13 graus ao longo da descida…
Com recolha de alguma informação no Posto de Turismo de Seia, sigo pela nacional até à Catraia de São Romão, aproximando-me do primeiro desafio do dia…
Desço a Vila Cova à Coelheira …
… e inicio a escalada ao monumento de Lapa dos Dinheiros. Apesar de curta, esta subida revela-se muito dura, sempre próxima dos dois dígitos de inclinação.
Ao entrar no pitoresco povoado da Lapa e após um quilómetro a mais de 11 %, “enfio-me” pelo “muro proibido” com fulgor… Como castigo, o inclinómetro quase rebenta a escala antes de ser obrigado a pôr-me de pé sobre os pedais para não tombar. Não posso precisar a inclinação máxima deste carreteiro cimentado, mas ronda os 30% na zona mais inclinada!! Quase em desespero para não pôr pé em terra sigo aos esses e em sofrimento extremo até ao monumento. O caminho, diabólico, segue sempre acima dos 14% e não permite recuperar daquela primeira rampa criminosa… É ir “à morte” até lá cima… O 30x24 parece-me mais agonizante que nunca… Que espírito maléfico terá engendrado tão malfadada rampa?!
Paro no monumento e deito-me num banco a recuperar o fôlego sob o olhar atónito de dois jardineiros… Após tão atroz agonia, não fiquei com muitas ganas de repetir esta façanha…
Quando consigo afastar a nuvem que me tolda a visão e esperando ver algum demónio após esta "coisa" infernal, vejo Cristo, de braços abertos, que parece querer saudar qualquer "louco" que se aventure a subir "aquilo" de bicicleta... Não sou crente, mas que me soube bem ver tão acolhedora estátua, lá isso soube...
Aproveito para visitar uns familiares que por aqui residem e faço-me de novo à estrada, em direcção a Valezim …
… e ao maior desafio do dia: o ataque à Torre pela vertente de Vide!
Após a Portela do Arão sigo para o Alto do Carrazedo e inicio a descida de 10 Kms que me leva 700 metros mais abaixo, a Vide. Este é o povoado a mais baixa altitude de todo o Parque Natural da Serra da Estrela (aprox. 300 mts). O que se segue é a ascensão à Torre pela vertente que, na minha opinião, é a subida mais dura de Portugal Continental. Tem o maior desnível (aprox. 1.700 mts), tem “repechos” duros (um máximo de 19%) e é bem longa (31.550 mts a 5,4%), tratando-se de uma pura categoria especial.
Paro, estico as pernas, dou uns saltos, mastigo uns hidratos, e lá vou eu ao martírio que desejo desde que tive conhecimento da asfaltagem da estrada de São Bento, debaixo de uns incríveis 31 (!) graus de temperatura atmosférica. Enveredo pela estradita para Cabeça que, na carta militar, me parecia bem mais dura que a do Alto do Carrazedo. E isso verifica-se logo nas rampas iniciais…
Os primeiros 8 quilómetros, até à aldeia de Cabeça, têm um relevo algo irregular, alternando rampas muito duras com descidas.
Á saída de Vide aqueço as pernas em 600 metros a 11%, segue-se uma ligeira descida, o pequeno povoado de Muro e uma terrível rampa, entre duas curvas, com 19% de inclinação máxima, que deixarão “pregados” os incautos fãs das relações pesadas que se aventurarem por este caminho serrano e não tomarem em devida atenção a designação da última aldeia...
Nova descida até Casal de Rei e nova rampa, até Cabeça, com um quilómetro acima dos 9%.
À entrada de Cabeça, e após 8 Kms “esquisitos”, seguem-se 5,5 Kms “regulares” a 8,5%, onde nunca se ultrapassam os 12%.
Após a rotunda da Portela do Arão, continuo pela belíssima estrada de São Bento, agora alcatroada e bem mais acessível do que quando era “selvagem”.
Este troço de 9,3 Kms a 7% tem alguma assimetria, alternando “descansos” com rampas a 14%, devidamente assinaladas. Tem a maior dureza já próximo da Lagoa Comprida, onde há dois Kms acima dos 11% e um outro, que supera os 10.
Na rotunda que se segue e já acima da Lagoa Comprida, ataco os derradeiros 9 Kms até à Torre, com um sobe e desce que não alcança os 4% de média. Aqui é o cansaço acumulado que dita leis.
Neste pedaço apanho novamente um frio de rachar (13º) e um nevoeiro cerradíssimo oriundo do Vale de Loriga e dos diversos covões. Trata-se do conhecido microclima “áspero” desta vertente virada para o mar e que por vezes faz das suas… E eu de manguinha curta… Brrrrrrrr…
Já na Torre paro no café local para retemperar do esforço ao que se segue a descida a Manteigas, pelo sempre esplendoroso vale glaciário e sob um solinho agradável que nada tem de semelhante com o nevoeiro que reinava do “outro lado”.
Em Manteigas meto pela via florestal (a alcatroada, não a famosa “parede” empedrada). Com rampas duras e em zig-zag, somando curva e contra-curva, lá vou progredindo, metro a metro. Ao passar a escola há uma rampa mantida a 14%. A cobertura vegetal proporcionada por árvores de grande porte e o incrível som das imensas aves que por aqui esvoaçam faz desta subida a que mais me agrada de entre todas as subidas da Serra da Estrela.
Após 4 duros Kms a 9% aparece o cruzamento da nacional oriunda de Manteigas que leva às Penhas Douradas a pendentes muito mais suaves. Os últimos quilómetros, já em descompressão, estão salpicados de bonitas paisagens e algumas casas curiosas, bem típicas das terras altas. Após o topo das Penhas Douradas desço o caminho pela margem direita da barragem do Vale de Rossim e dou por finalizada a etapa mais dura da minha vida…
…128,87 Kms com 3.694 mts de desnível acumulado, aproximadamente 30% de inclinação máxima superada, temperaturas entre os 13 e os 31 (!) graus, 196 bpm na aterradora “parede” da Lapa, 9 horas e 24 minutos a pedalar…
Um “tormento” a repetir e digno dos anais de qualquer “louco por cumes”…
Serra da Estrela (dados das subidas realizadas):
Vila Cova à Coelheira – Lapa dos Dinheiros (monumento): distância – 5,42 Kms; altitude - 797 mts; desnível - 421 mts; pendente média - 7,8%; pendente máxima - ~30%; Km mais duro - >14,5%; Coef APM - 162; Coef APM a cada 100 mts – 173; observação: últimos 400 mts a 19% de inclinação média…
Lapa dos Dinheiros – Portela do Arão: distância – 7,86 Kms; altitude – 958 mts; desnível – 363 mts; pendente média - 4,6%; pendente máxima – 11%; Km mais duro - 6,4%; Coef APM - 57; Coef APM a cada 100 mts – 62.
Vide - Torre: distância – 31,55 Kms; altitude – 1.993 mts; desnível – 1.688 mts; pendente média - 5,4%; pendente máxima - 19%; Km mais duro - 11,5%; Coef APM - 415; Coef APM a cada 100 mts – 532; observação: subida com maior coeficiente APM de Portugal Continental.
Manteigas – Penhas Douradas: distância – 12,61 Kms; altitude – 1.518 mts; desnível – 726 mts; pendente média - 5,8%; pendente máxima – 14%; Km mais duro - 9,5%; Coef APM - 151; Coef APM a cada 100 mts – 166.
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