terça-feira, julho 11, 2006

Casielles - 15 de Junho de 2006

À Conquista das Astúrias

6 – Casielles - 15 de Junho de 2006

O dia amanheceu soalheiro e o calor não era muito intenso. O dia típico em que apetece pedalar.
Levanto a âncora de Arenas de Cabrales, despedindo-me, com pena, dos simpáticos asturianos que me deram guarida nestes primeiros dias e arranquei em direcção ao Desfiladero de los Beyos, onde se cruza o caminho para a pequenas aldeias de Viboli e Casielles que, actualmente, são habitadas apenas por quatro e duas pessoas, respectivamente.




Enquanto estou a preparar a bicicleta, passa um grupo de cicloturistas que vai em direcção ao Puerto de Ponton. Perguntam-me que itinerário vou tomar. Digo-lhes que vou subir Casielles e se me querem acompanhar, mas … não consegui convencer ninguém! Parece que este "muro" é bem conhecido por estas bandas, sendo inclusive, apelidado de “Petit Alpe d’Huez”, devido às suas 23 curvas!


(Foto aérea das 23 curvas do "Petit Alpe d’Huez” - Casielles)


Olho uma última vez para o gráfico de altimetria da “parede” que quero “vergar”. Não tenho conta-Km nem pulsómetro, pelo que a subida será “às cegas”! Apenas tenho o inclinómetro para me ir divertindo a ver a borbulha lá no topo! Decido controlar a distância pelo número de curvas.

Altimetria - www.altimetrias.com

Dou umas voltas no desfiladeiro para aquecer e depois inicio o “martírio”…
O caminho, inicialmente, é incrustado na parede da garganta do Rio Porciles, afluente do Rio Sella que passa em Cangas de Onis. As boas vindas são dadas, quase de imediato, por uma “parede” de 16% seguindo-se uma dificílima rampa acima de 20%! E longa...

Como se não bastasse a impressionante inclinação, a humidade existente no asfalto faz a roda tractora derrapar, tornando a ascensão ainda mais penosa...



O ritmo é tão lento que dá para apreciar a natureza e ouvir da água do rio e o chilrear dos pássaros. Passo uma ponte que dá acesso a uma estradita sem saída que sobe até Casielles e aí … começa a parte realmente complicada… Sobem-se aproximadamente 380 mts em apenas 3 Km, sendo o primeiro a 14% de inclinação média!! Meto o prato de 30 dentes e o carreto de 24 … e lá vou eu, pedalando vagarosamente…



É a subida mais bela de que me lembro… As constantes curvas vão dando uma diferente perspectiva da paisagem que se vai abrindo com o passar dos metros.



Há algumas rampas muito duras, inclusive acima dos 20%!

O piso é péssimo, pois o asfalto está coberto de gravilha, o que impossibilita pedalar sem estar sentado sob perigo de derrapagem.



Após passar as primeiras agruras fico convicto que vou fazer a rampa toda sem apear. O constante tornear infligido pelas infindáveis curvas de 180º não permitem que o tédio da velocidade diminuta torne a ascensão monótona.

Ainda mais impressionante que a paisagem, é o som dos imensos pássaros que esvoaçam por aqui. A paisagem, o som dos pássaros, o odor das árvores, a textura do guiador e o sabor do esforço formam uma tal mescla que a sensação reinante é de que todos os sentidos estão ao rubro. Para quem, como eu, gostar da natureza no seu estado mais puro, esta jornada será sempre um prazer.

Já próximo do cume, ao chegar à povoação, ainda existem algumas rampas complicadas a superar os 20% e com o piso muito degradado. Mas, depois desta penosa “tortura”, não seria aqui que iria apear…



Ao chegar ao topo, desmonto da bicicleta para mirar a paisagem natural que se me depara, esticar as pernas, tirar algumas fotos ...

... e sentir um pouco da fabulosa sensação que este local recôndito de tamanha beleza oferece. Meto aqui umas fotos, mas ao observá-las tenho plena consciência de que não reflectem verdadeiramente a beleza a que assisti.



Fico convencido que “vergarei” o Anglirú sem apear, apesar de saber o sofrimento que me espera! Apenas o fatídico quilómetro da Cueña les Cabres tem mais pendente do que os que acabei de fazer…
A ascensão total deu um tempo de 29 minutos.

Depois, fui visitar o museu da Sidra, onde pude aprender a importância deste néctar na cultura asturiana. Os asturianos, à nossa semelhança, são bem desenrascados. Não existindo na zona uvas em quantidade suficiente para a produção de uma quantidade aceitável e comerciável de vinho, optaram pela produção de sidra a partir das imensas espécies de maçãs que se cultivam por aqui.

Aproveitei o resto do dia para visitar Mieres e recolher informações sobre o Museu do Minério e Indústria a visitar no dia seguinte.

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