domingo, abril 30, 2006

Peregrinação à Nossa Sra. do Socorro - 29 de Abril de 2006




Desta vez a malta madrugou para proceder à famosa peregrinação à Serra do Socorro.




Esta clássica do grupo Infantrilhos já não era realizada há muito tempo, pelo que se notava que a expectativa era enorme.
A volta iniciou-se lentamente, como tem sido apanágio dos últimos passeios, com a já habitual “Brigada dos Canhões” a impor o “seu ritmo”* na vanguarda! O Gps assim o obrigava.
Até à Póvoa da Galega trilharam-se caminhos conhecidos. Depois, foi uma aventura. Com a Serra do Socorro como pano de fundo, os trilhos iam sendo transpostos facilmente...


Num deles, vi o da objectiva (Paulo Borges) a sorrir, no meio dos arbustos, à espera de um “momento mau”. Para lhe fazer a vontade, desmontei… Fiz isto umas cinco ou seis vezes durante o passeio, para ter a certeza que alguma foto haveria de ficar com qualidade. Portanto, se virem alguma, já sabem…
Também assistimos a uma espectacular demonstração do Henrique! Mostrou ao pessoal como se transpõe um rego … de gatas! Lindo… Foi o Farelo que te ensinou?
A média quilométrica estava a ser boa até pararmos num forte das Linhas de Torres, um pouco antes da maior dificuldade que nos esperava.


Aqui, assistiu-se a um festim de pândega de alguns elementos que tinham trazido o farnel de casa. Contudo, o L-Glutamina limitou-se a ingerir um litro de algo que jurou a pés juntos ser legal. No outro dia vi num documentário uns detritos do urânio que estão a enriquecer no Irão. As semelhanças eram imensas…



A visão da Serra, aquele pico imponente, teve efeitos diversos nas diferentes criaturas. Enquanto uns ficaram mais empolgados, outros começaram a rezar as primeiras orações do dia.
A vertente escolhida para a ascensão era bem acessível, mas provavelmente haveriam outras bem mais “engraçadas”! Provocariam, certamente, momentos bem hilariantes!
As dificuldades iniciaram-se após um cruzamento perto da A8. Aí, cada um impôs o seu ritmo e lá se foi escalando, mais ou menos penosamente. O aroma dos eucaliptos é uma maravilha, nesta época primaveril e a paisagem proporcionada por esta vertente quase que nos impulsiona para cima. Após um troço muito técnico, com algumas rampas íngremes onde abundam regos e calhaus, entra-se na rampa em paralelo que leva ao topo. Aqueles 300 metros finais são demolidores, sempre acima dos 15% e onde o constante saltitar proporcionado pelo piso em nada ajuda.
Nesta fase, ao abeirar-me do precipício, vi os restantes peregrinos “perdidos” encosta abaixo, cada um por si, carpindo as agruras da subida. À frente, seguia o Hugo (deixei-o ir na frente, para ele ficar contente).


Após a curva para a esquerda e pronto para atacar a última rampa que leva à capela, estiquei a camisola, endireitei o capacete e ataquei a dita em pé, com toda a força. No topo, levantei os braços com um sorriso estampado, à espera de ver o fotógrafo de serviço de objectiva na mão, imortalizando tão magnífica prestação! Só depois me apercebi que esse ainda vinha bem longe, lá em baixo… Entristecido por este momento tão desmotivante, dei meia volta, e fui serra abaixo atrás do Hugo (é complicado redigir sobre a subida que realizou, pois ia uns míseros centímetros à minha frente, mas como ia muito depressa, pareceu-me bem mais cansado do que eu!).
Encarei com o magnífico Isidoro que atacava a última dificuldade com valentia … o sorriso estampado no rosto … a gola bem direitinha … só depois se terá apercebido da ausência do fotógrafo!
Logo atrás, com pose de gladiador, vinha o Biker! Era evidente que vinha no encalço da presa (Isidoro), pelo que para ele foi boa a ausência da objectiva para a posteridade. A carantonha com que vinha não seria a mais recomendável…
Ao descer um drop ainda vislumbrei uma luta titânica entre o L-Glutamina e o Paulo Borges. O primeiro, gastando os últimos vestígios de “gasóleo”, lá ia resistindo à captura; o segundo, ia olhando o conta-Km e fazendo contas à sua progressão, aplicando o conveniente handicap!
Continuei a descer e já no empedrado deparei com um duo em “ritmo vegetal” (Ricardo e Henrique). Acenei, sorri, esbracejei, disse-lhes que já faltava pouco … e eles nada! Nem pestanejaram!! Iam em reserva de calorias, com toda a certeza!
Depois … uma visão horrenda!! Um bom pedaço atrás, onde a inclinação se acentua, uma carantonha de bradar aos céus!! Era o Álvaro!! Vinha a balbuciar qualquer coisa (… este volante … e tal … que é grande …). Quando me viu, desfez a careta, abriu aquele seu sorriso tão característico e sem eu nada lhe perguntar, respondeu: “Vem gente lá atrás!!).
Fiquei abismado! Como era possível! Já estava quase no sopé da montanha! Mas, na dúvida, continuei a descer. Ao passar por ele tive de me desviar da pesada âncora que arrastava…
E lá voltou ao relambório do costume (… é que é o raio do espigão … e tal … que o banco …e não sei quê …).
Era a âncora, rapaz, era a âncora!
Já no caminho de terra batida pareceu-me vislumbrar, ao longe, um peregrino, de joelhos, serra acima, carregando uma enorme cruz! Isto há cada um…
Após mais algumas centenas de metros, numa curva, encaro com o dito! Era o Paulo Sousa! Não vou aqui descrever a sua expressão por respeito às mentes mais impressionáveis. O Hugo, assustado com tal silhueta, fazia-lhe companhia. O gajo nem tugiu nem mugiu! Estava mais vegetal que o eucalipto ali à beira da estrada. Dei meia volta e meti-me ao seu lado. O Hugo arrancou no encalço do da âncora.
Eu, por ali fiquei. Lá fui fazendo um monólogo para passar o tempo, pois do outro ser … nem um piu! Ao entrarmos no empedrado fui-me divertindo a contar os paralelos! São 117.596 até lá cima! Também observei pelo menos sete espécies diferentes de escaravelhos!
A dado momento afastei-me dele para o deixar respirar. Se estivesse a menos de 3 metros era capaz de ser “sugado”, tal era o arfar!! No topo, ainda lhe disse que o fotógrafo (agora já lá estava!!) estava “à coca”, para limpar as lágrimas e a baba que lhe escorria abundantemente! Mas fiquei com a impressão que ele estava a ser atacado por algum tipo de paralisia, pois não esboçou o mais pequeno movimento.


No alto, já em momento de relaxe, lá se ouviram as piadas do costume: “… o Hugo é mau…”, “… o Pinto tem asas…”, “… que afinal era a escora…”, “… pelo handicap vou em segundo…”, “… que a urina queima a sanita…”, etc, etc…
Enquanto isso, num cantinho mais recatado, o L-Glutamina deglutia avidamente o quarto litro daquele líquido saudável!!



Iniciou-se o regresso às origens com a descida da montanha a grande velocidade. A meio perdi-me, mas consegui guiar-me pelo rasto de destruição deixado pelo suor do L-Glutamina! Pelo sim, pelo não, tive o cuidado de não por os pneus em cima “daquilo”! Foi por isso que me atrasei…


Gostei mais dos trilhos de regresso que dos de ida. Foi curiosa a passagem de nível e o trilho que se lhe seguiu. O tal onde o Ricardo (primo do Isidoro) conseguiu “arrancar” a haste do quadro! Deve ser da costela familiar. Esses pedais são para tratar com jeitinho…


No limite da freguesia da Sapataria, quando subia a rampa de Moitelas atrás do Hugo (por opção), ia com a vã esperança de me aparecer o tal tractor de que o Álvaro tanto fala. Aí é que ele ia ver! De repente, ouvi um som grave atrás de mim! “Aí vem ele…” pensei. Olhei sobre o ombro, numa réstia de esperança... Mas não… Não era o tractor… Era o Isidoro em pé sobre os pedais, a dar-lhe com tudo.
Do topo, ainda deu para ver o Álvaro a olhar para tudo quanto era sítio à procura “dele” … mas desta vez a sorte não lhe sorriu.
No alto, despedimo-nos do Paulo Sousa (Jasusss!! Que cara!!) e do L-Glutamina (tinha de ir por causa das horas … mas, reparei que tinha os bidões de urânio vazios …) que continuaram por asfalto.
Seguimos por uns trilhos no topo dos montes, com magníficas paisagens e onde a pedra rolante era rainha! Bem difícil para quem não tinha suspensão total. Nessa fase, numa descida, ouvi atrás de mim uma lamúria “… e não sei quê … o pneu …”, abri para a direita e passou o Álvaro na brida…

Não sei como o fez, mas quando olhei para trás era eu que arrastava a âncora!!
Até ao Freixial foi sempre no “prego”.
Nesta fase, diverti-me bastante com o Álvaro! Ora arrastas tu, ora arrasto eu…
Já no Freixial, quando nada o faria supor, ao atacar uma “parede”, o som brutal de uma manada em fúria ecoou atrás de mim! Olhei… Era o Paulo Borges … estatelado! Aquele som … nunca o esquecerei!! Quem cai com um baque daqueles tem de levar um bónus no handicap. Felizmente, apenas restaram uns arranhões no cotovelo, no joelho … e na alma, por não ter ultrapassado o pequenito que seguia na frente! Como viste, não é para todos! Piu!
O Isidoro e o Ricardo tiveram de tomar um caminho alternativo, pois os afazeres profissionais assim o exigiam.
Voltamos a montar e eis senão quando o Henrique começa a falar de bifanas e boémias e não sei que mais… Pronto, caldo entornado… A partir deste momento não ouvi o Álvaro falar de mais nada senão de bifanas e boémias… Nem quando perguntou como se ia para Fanhões e ouviu a implacável resposta se queixou! A última rampa seria subida a … pensar na bifana!
Ao atacar os cowboys livrei-me de vez da maldita âncora. Passei pelo Álvaro que falava de mostarda e alguns molhos do género, pelo Paulo Borges que ia a fazer contas de handicaps sobrepostos e acumulados (idade, arrobas, pedaleira, tombo, joelho, cotovelo…), pelo Henrique que implorava por comida, pelo Biker que jurava sentir-se nas últimas, mas continuava a pedalar. No final, tinha o Hugo à espera, que me disse para apertarmos no ritmo, pois sentia as pernas pesadas por andar devagar! Pois… Como é que é mesmo?! Onde está o tractor?
Decidimos rumar ao Infantado, para comer e beber algo no Nanni. Que bem soube aquela bifana…
Espero não esperar mais um ano para realizar de novo esta clássica. Numa só palavra: fabulosa!!



Nesta romaria participaram os seguintes peregrinos (na foto, da esquerda para a direita): Henrique, o boémio; Paulo Sousa, o da cruz; Hugo, o “fraquinho”; Ricardo, o tractorzinho; Paulo Borges, o do handicap; Isidoro, o tractor; Biker, o gladiador; L-Glutamina, o nuclear; Pintainho, o do “paralelo”; Álvaro, o da âncora.

Este giro foi realizado a 29 de Abril de 2006, teve uma extensão de 66 Km à média de 13 Km/hr.

* - Aprox. 17 cm/segundo

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